Fenomenologia, Clínica e Saúde Mental

Apresentação da Pós-Graduação

Como pensar a Clínica e a Saúde Mental de modo diferente? Como conciliar todo um conjunto de reflexões teóricas, de perspectivas e olhares diferentes sobre um mesmo fenômeno, e as demandas práticas e técnicas do dia-a-dia?

A proposta dessa pós-graduação lato sensu é buscar refletir sobre a Clínica para além da técnica, para além de um “lugar” determinado; é pensar a Saúde Mental dentro e fora das práticas psi, buscando ampliar não apenas seu conceito, como suas possibilidades de ação.

Os discursos tradicionais são quase todos concordantes em valorizar o processo de relação, em sugerir o cuidado e a saúde de maneira integrada, mas nem sempre conseguimos colocar isto em prática.

O pensamento – comumente denominado – fenomenológico e existencial sempre primou por debater ideias e conceitos significativos para as práticas em contexto de saúde: Edmund Husserl deu relevo à questão da “intersubjetividade”; Martin Buber construiu seu pensamento em torno do “diálogo” e da “relação”; as ideias de “existência” e de “existir” são comuns a Heidegger, Scheler, Lévinas, Merleau-Ponty, Sartre, e tantos outros; Edith Stein muito nos ensina sobre “escuta” e “acolhimento”. E o “psicossocial” deriva de tantas contribuições da clínica e psicopatologia fenomenológica, como encontramos em autores como Binswanger, Minkowski, Laing, Cooper, Goffman, Szasz e Basaglia.

Uma das características centrais do grupo que propõe este curso Fenomenologia, Clínica e Saúde Mental, é a reflexão aprofundada em torno de questões sobre os processos de Saúde e Doença, construção e constituição da Subjetividade Humana, Psicopatologia, Fenomenologia pura e aplicada, Epistemologia e Filosofia da Ciência, Processos Sociais e Culturais, Religiosidade, Psicopatologia e Saúde Mental.

 

Nossa proposta é resgatar esses e tantos outros conceitos, necessários ao trabalho de todo um conjunto de profissionais, privilegiando um forte embasamento filosófico, com uma constante vinculação com a prática cotidiana. Assim, nos propomos a “pensar” a Clínica e a Saúde – uma certeza, e também uma incógnita – tal qual pensaram grandes nomes como Foucault e Canguilhem.

 

A Fenomenologia tem sido citada à margem das formações tradicionais das disciplinas de Saúde, seja por conta do seu hermetismo conceitual, seja pelas limitações que os diversos cursos de graduação encontram na transição dos modelos tradicionais dominantes. Mesmo assim, a Fenomenologia surge como protagonista em campos diversos e importantes, como a fundamentação da psicopatologia, o desenvolvimento de pesquisas qualitativas e, principalmente, a construção de um espaço de diálogo e entrelaçamento com o humano.

Nossa pós-graduação surge de mais de uma década de trabalhos desenvolvidos nas mais diversas áreas, reunindo profissionais de variados campos – como Filosofia, Psicologia, Psiquiatria, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Musicoterapia, Ciências da Religião – que compartilham um olhar de profundidade, e uma atuação concreta no mundo. Além disso, procura trazer ao debate, pesquisas as mais atuais possíveis, bem como temas tradicionalmente “marginais”, como Religiosidade e Espiritualidade, Crise Psíquica, Práticas Integrativas e Complementares, dentre outros.

EIXO NORTEADOR

O curso tem sua idealização decorrente das pesquisas, debates e discussões desenvolvidas por profissionais egressos das atividades do LabFeno – Laboratório de Fenomenologia e Subjetividade –, vinculado ao Curso de Psicologia e Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). As pesquisas, atividades de debates e produções, bem como os profissionais referidos, são oriundos deste programa de Pós-Graduação,

Ademais, as atividades e discussões bebem ainda de interlocuções com diversos parceiros – nacionais e internacionais – como os Grupos de Trabalho “Fenomenologia, Saúde e Processos Psicológicos” da ANPEPP (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia) e o de Fenomenologia da ANPOF (Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia); a Associação Brasileira de Psicologia Fenomenológica, e diversos Grupos e Laboratórios de Pesquisa espalhados pelo país.

Constituiu-se, a partir daí, um grupo de reflexão crítico dos processos usuais – normativos, naturalizados e naturalizantes – da vida e da experiência humana, apoiados na filosofia fenomenológica, com uma interpretação particular desta, de modo a reconhecer seu estatuto de “filosofia primeira” e de fundamentação das ciências (humanas, sociais e antropológicas), com o objetivo de construir uma prática fundamentada, crítica e aberta, dirigida aos processos clínicos.

Com isto, o grupo se alicerça tanto em pensadores da Filosofia, como da Clínica, no intuito de formalizar uma prática rigorosa, e ao mesmo tempo objetiva. Dentre os autores que compõem nosso eixo de reflexão, citamos: Wilhelm Dilthey, Edmund Husserl, Maurice Merleau-Ponty, Emmanuel Lévinas, Edith Stein, Georges Canguilhem, Michel Foucault, Georg Gadamer, Roger Bastide, Angela Ales Bello, Ludwig Binswanger, Eugène Minkowski, J.H.Van den Berg, Martin Buber, Carl Rogers, Tzvetan Todorov, Thomas Szasz, Erving Goffman, Franco Basaglia, Karl Jaspers e Gilberto Velho.